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Resumo
A invisibilidade social é uma característica encontrada na vida de muitos trabalhadores considerados subalternos, como empregados domésticos, faxineiros, porteiros, garis e catadores, que deixam de ser vistos
como pessoas e passam a ser tratados como ‘partes’ de um cenário. Precisamos pensar e repensar nossas atitudes, conceitos e paradigmas em relação ao outro. O documentário “Lixo Extraordinário” (2010), realizado no decorrer dos anos de 2007 a 2009, relata a proposta do artista Vik Muniz de desenvolver um trabalho junto aos catadores de lixo do Jardim Gramacho, um aterro sanitário localizado na periferia do Rio de Janeiro. O documentário é constituído por narrativas de pessoas que vivem da coleta de lixo nesse aterro. Segundo Goffman (1988) “enquanto o estranho está a nossa frente, podem surgir evidências de que ele tem um atributo que o torna diferente de outros que se encontram numa categoria em que pudesse ser incluído (...), sendo até de uma espécie menos desejável, reduzindo-o a uma pessoa estragada e diminuída. Tal característica é um estigma” (p. 12). Refletir conceitos da Psicologia Social Comunitária a partir do respectivo documentário; analisar a importância da interação entre a arte, a cultura e as representações sociais na construção de sentido, na transformação do sujeito; apresentar um trabalho escrito com caráter de Revisão de Literatura; apresentar um seminário, com o conteúdo pesquisado, analisado e estudado, aos graduandos de Psicologia. A metodologia que utilizamos foi a Revisão Sistemática de Literatura de Psicologia Social Comunitária, tendo como referência: “A ordem do Discurso”, de Foucault (2010), e “Psicologia Social Comunitária: da solidariedade à autonomia”, de Campos (2007), para discutirmos com
segurança diferentes situações contemporâneas de não aceitação de pessoas em sua multiplicidade e de segregação social. Utilizamos como ponto de partida para nossa reflexão e construção do trabalho o
documentário “Lixo Extraordinário”. Os resultados que obtivemos foram a elaboração de um trabalho escrito de Revisão de Literatura e a apresentação de um seminário aos graduandos de Psicologia, através do qual pudemos levantar vários questionamentos sobre aspectos sociais envolvidos no documentário, como: um estranhamento por Vik Muniz em relação ao território de trabalho; como as pessoas que trabalham com o
lixo, na coleta de materiais descartáveis, são percebidas pelos olhares da sociedade, a qual ainda alimenta uma relação preconceituosa daquilo que vem do lixo, trazendo um sentimento de evitação; a marca cultural em torno da atividade ligada ao lixo traz certo nojo, afastamento, ou, até mesmo, repugnância; refletimos sobre o que é normal e patológico para a sociedade contemporânea. O que o instituído normal em nossa sociedade pode gerar de segregações sociais? Observamos a importância da interação das representações sociais, pois através desse mecanismo e do diálogo, a transformação social e a criação de novas subjetividades tornam-se possíveis de acontecer. A discriminação contribui diretamente para o aumento da segregação social; torna difícil o enfrentamento de realidades; evita questionamentos; e afasta, muitas vezes,
de forma sutil tentativas de inclusão social. O preconceito é passado de geração em geração, ele é uma construção social e, se é construído, também pode ser desconstruído. Para enfrentar discriminações,
precisam-se buscar esclarecimentos sobre a temática, levantar questionamentos, fazer reflexões, dialogar acerca de temas tabus na perspectiva de trazer propostas de inclusão social. Concluímos que a coleta de lixo é uma das atividades humanas que está vinculada ao preconceito, à segregação e à discriminação social, como revelado pelas pessoas entrevistadas no documentário, as quais são pouco, ou nada, reconhecidas
socialmente. Uma condição de estigma corresponde àquilo que as pessoas reconhecem como de humilhação, de desonra, usados para reconhecer ‘o outro’. Existe uma ditadura que a própria sociedade impõe como padrão aceitável, subversivo ou desprezível. Atributos capazes de gerar isolamentos, sentimentos de inferioridades, rejeição e humilhação social. Dessa forma, analisamos que, sem alteridade, a diversidade é eliminada, dando lugar à exclusão. A atitude de reflexão, de criticidade diante de temas tabus, possibilita trazer para a visibilidade aquele ou aqueles que estavam invisíveis em nossa comunidade.
Palavras Chave: Sujeito; Exclusão Social; Diversidade; Psicologia; Comunidade.
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